quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

O Papa “cancelou” Bagnasco, o patrocinador do evento Dia da Família.


Por Charles Tecce  –  Francisco amanhã não se encontrará mais com o Presidente da Conferência Episcopal Italiana (CEI). Ele não gostou de ter sido enredado nos temas da política italiana. Jorge Mario Bergoglio eliminou o cardeal Angelo Bagnasco da agenda dos encontros oficiais. Nada de audiência amanhã pela manhã. O encontro privado, que tinha sido marcado há uma semana do Conselho Episcopal Permanente, apareceu e, em seguida, desapareceu do boletim interno com o timbre da “Prefeitura da Casa Pontifícia”.
Esse é o enésimo episódio e talvez o mais flagrante, que denuncia a distância entre a Igreja do Papa Francisco e a Igreja dos bispos italianos, presidida exatamente pelo Cardeal Bagnasco. O motivo: a “exposição do cardeal na mídia” – e, portanto, também dos demais bispos italianos –  por causa do Dia da Família, um evento agendado para o dia 30 de janeiro. O pontífice argentino não tolera mais o “ativismo político de uma CEI acostumada a promover emendas em textos legislativos e ficou furioso pelo fato de Bagnasco ter arrastado para a arena pública o debate contra as uniões civis entre homossexuais. O Papa não teria autorizado nem os protestos em praça pública e nem as pressões sobre o Parlamento.
Papa Francisco apoia a família tradicional, o casamento entre um homem e uma mulher, mas prefere não intervir com juízos severos e até mesmo ofensivos. É a linguagem da compreensão, aquela que trabalha para aproximar da Igreja os divorciados e homossexuais. Ninguém deve ser excluído ou rejeitado do rebanho de Cristo. O ex-Arcebispo de Buenos Aires não tem uma ideia diferente de família e reafirmou isso com insistência naquele tumultuado Sínodo de outubro, mas, por outro lado, está convencido de que os bispos são chamados para o papel de pastores, e não de senadores ou deputados auxiliares.
Não são necessárias interpretações para ilustrar a relação nada idílica entre os bispos de Bagnasco – um veterano da “era de Tarcisio Bertone” – e o Pontificado de Bergoglio: basta simplesmente se ater aos fatos. O primeiro: logo após ter sido eleito pelo Conclave (verão [europeu] de 2013), o Papa Francisco mudou o Secretário-Geral da CEI. Substituído por Nunzio Galantino, Mariano Crociata foi parar na Arquidiocese de Latina. O segundo: na assembleia de bispos, alguns meses mais tarde (maio de 2014), Bergoglio passou por cima de Bagnasco. O Papa argentino fez o discurso inaugural que abre os trabalhos e promoveu a candidatura à presidência de Gualtiero Bassetti. Comportamento idêntico em maio passado: “O Papa não fala por último”… mensagem ainda endereçada a Bagnasco. A terceira: Francisco participou da conferência de bispos italianos reunidos em Florença (Novembro de 2015) e, em seguida, demoliu as posições do eterno Camillo Ruini e do seu mais frágil sucessor Bagnasco: “Eu prefiro uma Igreja acidentada, ferida e suja por estar lá fora, nas ruas, do que uma Igreja doente pelo seu fechamento e comodismo ao se agarrar às suas próprias seguranças. Nós não devemos ser obcecados pelo poder, mesmo quando esse toma o rosto de um poder útil e funcional como imagem social da Igreja. Se a Igreja não assume os sentimentos de Jesus, se desorienta, ela perde o sentido”.
Naquela ocasião, diante de uma plateia de monsenhores um pouco hostis, Francisco chegou a explicar qual deveria ser a atitude tomada pela CEI: “dialogar não é negociar para ganhar sua própria fatia da torta comum. Dialogar é buscar o bem comum para todos, é discutir juntos e pensar quais seriam as soluções melhores para todos”.
Mesmo tentando ser o representante de uma Igreja dos conservadores que ainda resistem a Francisco, no próximo ano Bagnasco terminará seu mandato com um atraso considerável, pois no Vaticano esperaram em vão pelas renúncias, que eles teriam carimbado – que o diga o mais reformista – com entusiasmo.
A eleição do novo presidente da CEI será para os italianos uma sondagem conclusiva sobre pontificado de Bergoglio. Quem sabe o Vaticano será obrigado a perdoar Bagnasco e convidá-lo novamente ao palácio apostólico, ou será chamado a Santa Marta para uma repreensão?
A única certeza por agora é que amanhã, ao invés do Cardeal Bagnasco, Bergoglio receberá um núncio, como quem diz: a minha igreja é o mundo e a de vocês as assembleias da Câmara e do Senado.

FONTE:  http://ilsismografo.blogspot.com.br/2016/01/vaticano-il-papa-cancella-bagnasco.html

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