Falta uma quarta operação a ser feita, sobre a qual queremos
refletir hoje: anunciar a Palavra. A Dei Verbum fala brevemente do lugar
privilegiado que a Palavra de Deus deve ter na pregação da Igreja (DV, nr. 24),
mas não trata diretamente do anúncio, também porque sobre este argumento o
Concílio dedica um documento a parte, a Ad gentes divinitus, sobre a atividade
missinária da Igreja.
Depois deste texto conciliar, o discurso foi retomado e
atualizado pelo Beato Paulo VI com a Evangelii nuntiandi, por São João Paulo II
com a Redemptoris missio, e pelo Papa Francisco com a Evangelii gaudium. Do
ponto de vista doutrinário e operacional, portanto, tudo foi dito, e ao mais
alto nível do magistério. Seria insensato da minha parte achar que eu poderia
acrescentar algo. O que é possível fazer, de acordo com a linha destas
meditações, é destacar algum aspecto mais diretamente espiritual do problema.
Para fazê-lo, começo com a frase, muitas vezes repetida, do Beato Paulo VI: “o
Espírito Santo é o principal agente da evangelização[1]”.
1. O meio e a mensagem
Se eu quero espalhar
uma notícia, o primeiro problema que se coloca é: com qual meio transmiti-la: através
do jornal? Através do rádio? Através da televisão? O meio é tão importante que
a ciência moderna das comunicações sociais cunhou o slogan: "O meio é a
mensagem" (“The medium is the message[2]”). Ora, qual é o meio primordial
e natural com o qual se transmite uma palavra? É o sopro, a respiração, a voz
que toma, por assim dizer, a palavra que se formou no segredo da minha mente e
a leva ao ouvido do interlocutor. Todos os outros meios apenas potenciam e
amplificam este meio primordial do sopro ou da voz. Também a escritura vem
depois e supõe a viva-voz, uma vez que as letras do alfabeto só são sinais que
indicam sons.
Também a Palavra de Deus segue esta lei. Ela é transmitida
por meio de um sopro. E qual é, ou quem é, o sopro, ou ruah, de Deus, segundo a
Bíblia? Nós sabemos: é o Espírito Santo! O meu sopro pode animar a palavra de
um outro, ou o sopro de outro animar a minha palavra? Não. A minha palavra só
pode ser pronunciada com o meu sopro e a palavra de outro com o seu sopro.
Assim, de forma análoga, claro, a Palavra de Deus só pode ser animada pelo
sopro de Deus que é o Espírito Santo.
Esta é uma verdade muito simples e quase óbvia, mas de
imenso alcance. É a lei fundamental de todo anúncio e de toda evangelização. As
notícias humanas se transmitem ou com viva-voz ou via rádio, jornal, internet,
e assim por diante; a notícia divina, em quanto divina, é transmitida através
do Espírito Santo. O Espírito Santo é o verdadeiro, essencial, meio de
comunicação, sem o qual nada se percebe da mensagem, a não ser o revestimento
humano. As palavras de Deus são "Espírito e vida" (cf. Jo 6, 63), e,
portanto, só podem ser transmitidas ou acolhidas “no Espírito”.
Esta lei fundamental é a que vemos em ato, concretamente, na
história da salvação. Jesus começou a pregar "com o poder do Espírito
Santo (Lucas 4,14 ss) Ele próprio declarou: “O Espírito do Senhor está sobre
mim... ele me consagrou com a unção, para levar aos pobres uma feliz mensagem”.
(Lc 4, 18) aparecendo aos apóstolos no Cenáculo na tarde de Páscoa, ele
disse:" Como o Pai me enviou, também Eu vos envio. Dito isto, soprou sobre
eles e disse: Recebei o Espírito Santo "(Jo 20, 21-22). Ao dar aos
apóstolos o mandato de ir a todo o mundo, Jesus lhes deu também o meio para
realiza-lo – o Espírito Santo – e deu-o, de forma significativa, no sinal do
sopro, da respiração.
De acordo com Marcos e Mateus, a última palavra que Jesus
disse aos apóstolos antes de subir ao céu foi "Ide!": “Ide por todo o
mundo e pregai o evangelho a toda criatura" (Mc 16,15; Mt 28, 19) . De
acordo com Lucas, o comando final de Jesus parece ser o oposto: Fiquem! Permaneçam!
“Permaneçam na cidade até serdes revestidos com o poder do alto” (Lc 24, 49).
Claro, não há contradição; o sentido é: ide por todo o mundo, mas não antes de
ter recebido o Espírito Santo.
Toda a história de Pentecostes serve para destacar essa
verdade. Vem o Espírito Santo e eis que Pedro e os outros apóstolos, em voz
alta, começam a falar de Cristo crucificado e ressuscitado e a sua palavra tem
uma tal unção e potência que três mil pessoas sentem o coração transpassado. O
Espírito Santo, descido sobre os apóstolos, se transformar neles em um
irresistível impulso a evangelizar.
São Paulo vem afirmar que sem o Espírito Santo é impossível
proclamar que “Jesus é o Senhor! ” (1 Cor 12, 3), que é o começo e a síntese de
todo anúncio cristão. São Pedro, por sua vez, define os apóstolos “aqueles que
anunciaram o Evangelho no Espírito Santo” (1 Pd 1, 12). Indica com a palavra
“Evangelho” o conteúdo e com a expressão “no Espírito Santo” o meio, ou o
método, do anúncio.
2. Palavras e obras
A primeira coisa a evitar quando se trata de evangelização é
a de pensar que seja sinônimo de pregação e, portanto, reservada a uma
categoria particular de cristãos. Falando da natureza da revelação a Dei Verbum
diz:
“Esta «economia» da revelação realiza-se por meio de ações e
palavras intimamente relacionadas entre si, de tal maneira que as obras,
realizadas por Deus na história da salvação, manifestam e confirmam a doutrina
e as realidades significadas pelas palavras; e as palavras, por sua vez,
declaram as obras e esclarecem o mistério nelas contido[3]”
Trata-se de uma afirmação que remonta a São Gregório Magno.
"O Nosso Senhor e Salvador – escrevia o santo doutor – às vezes nos
adverte com o que diz, às vezes, pelo contrário, com o que faz”: “aliquando nos
sermonibus, aliquando vero operibus admonet”[4]. Esta lei que vale para a
Revelação na sua origem, vale também para a sua difusão. Em outras palavras,
não se evangeliza só com as palavras, mas, em primeiro lugar, com as obras e a
vida; não com o que se diz, mas com o que se faz e que se é.
Assim foi no começo. O estudo de maior autoridade sobre
“missão e propagação do cristianismo nos primeiros três séculos”, conclui que
"a mera existência e o trabalho constante das comunidades individuais foi
o principal fator na propagação do cristianismo[5]". Neste ano da
misericórdia vale a pena lembrar em que consistiu este "trabalho" da
comunidade cristã. Além da ajuda fraterna entre si, consistia nas obras de
misericórdia com todos: no cuidado com os órfãos, com os enfermos, os
prisioneiros. A força destas iniciativas era tão evidente que, querendo
contrariar o crescimento da fé cristã, o imperador Juliano, que voltou para a
religião pagã, tentou introduzir análogas instituições de caridade no âmbito
civil.
Há um ditado em
Inglês que adquire um significado todo particular aplicado à evangelização: “Os
fatos falam mais do que as palavras”: “Deeds speak louder than words”. Uma
frase muitas vezes repetida por Paulo VI na Evangelii nuntiandi diz assim:
“"O homem contemporâneo escuta com melhor boa vontade as testemunhas do
que os mestres, ou, se escuta os mestres é porque são testemunhas[6]".
Um dos mais famosos filósofos moralistas do século passado
(não há necessidade de mencionar o seu nome) certa noite foi surpreendido em um
local com uma companhia pouco edificante. Um colega lhe perguntou como podia
conciliar a sua conduta com o que escrevia nos seus livros; ele respondeu
tranquilamente: “Alguma vez você viu uma placa de sinalização caminhar para a
direção que indica? ”. Uma resposta brilhante, mas que se condena a si mesma.
Os homens não sabem o que fazer com “placas de sinalização” que mostram a
direção, mas que não se movem um centímetro.
Eu tenho um bom exemplo da eficácia do testemunho, na
própria ordem religiosa à qual pertenço. A maior contribuição, mesmo se
escondida, que a ordem dos capuchinhos deu à evangelização nos cinco séculos de
sua história não foi, creio eu, a de pregadores profissionais, mas o exército
de “irmãos leigos”: simples e ignorantes porteiros dos conventos ou pedintes.
Populações inteiras recuperaram ou manteram sua fé graças ao contato com eles.
Um deles, o Beato Nicolau de Gesturi, falava tão pouco que as pessoas o
chamavam de "Frei silêncio”. Até na Sardenha, depois de 58 anos da sua
morte, a ordem dos Capuchinhos se indentifica com frei Nicola de Gesturi, ou
também com frei Inácio de Laconi, outro santo Frei pedinte do passado. O mesmo
acontece aqui em Roma, no começo da Ordem, com são Felix de Cantalice.
Realizou-se a palavra que Francisco de Assis dirigiu um dia aos fradres
pregadores: “Por que vocês se gloriam da conversão dos homens? Saibam que quem
os converteu foram os meus frades simples com as suas orações[7]”.
Certa vez, durante um
diálogo ecumênico, um irmão Pentecostal me perguntou – não para criar polêmica,
mas para tentar entender mesmo – por que nós católicos chamamos Maria de
“Estrela da Evangelização”. Foi a ocasião também para mim de refletir sobre
este título atribuído a Maria por Paulo VI, na conclusão da Evangelii
nuntiandi. Cheguei à conclusão de que Maria é a estrela da evangelização,
porque não trouxe uma palavra particular para um povo particular, como fizeram
os maiores evangelizadores da história; mas levou a Palavra feito carne e
levou-a (também fisicamente) ao mundo inteiro! Nunca pregou, só pronunciou
pouquíssimas palavras, mas estava cheia de Jesus e por onde andava exalava o
seu perfume, tanto que João Batista deu-se conta desde o ventre de sua mãe.
Quem pode negar que a Virgem de Guadalupe tenha desempenhado um papel
fundamental na evangelização e fé do povo mexicano?
Falando para um ambiente curial, parece-me justo destacar a
contribuição que podem dar – e que dão, de fato – à evangelização aqueles que
passam a maior parte do seu tempo atrás de um escritório e tratando negócios
aparentemente não relacionados com a evangelização. Concebe-se o próprio
trabalho como serviço ao Papa e à Igreja; renova vez ou outra esta intenção e
não permite que a preocupação da carreira tome conta do seu coração. O modesto
funcionário de uma Congregação contribui para a evangelização mais do que um
pregador profissional, se este procura agradar mais os homens do que a Deus.
3. Como se tornar evangelizadores
Se o compromisso de evangelização pertence a todos,
procuremos ver quais são os pré-requisitos e as condições para tornar-se
realmente evangelizadores. A primeira condição nos é sugerida pela palavra que
Deus dirigiu a Abraão: “Sai da tua terra e vai” (cf. Gn 12, 1). Não há missão e
envio sem uma saída prévia. Falamos muitas vezes de uma Igreja "em
saída". Devemos dar-nos conta de que a primeira porta da qual sair não é
aquela da Igreja, da comunidade, das instituições, das sacristias; é aquela do
nosso “eu”. Explicou-o muito bem, em certa ocasião, o próprio Papa Francisco:
“Estar em saída, dizia, significa antes de mais nada sair do centro para deixar
a Deus no Centro”. "Descentralizar-nos de nós mesmos e recentralizar-nos
em Cristo”, diria Teilhard de Chardin.
Mais intenso que o grito dirigido a Abraão, é o de Jesus
àquele que chama para colaborar com ele no anúncio do Reino: “Parte, sai do teu
eu, negue a si mesmo! Então tudo se torna meu. A tu vida muda, o meu rosto se
torna o teu. Não eres mais tu que vives, mas eu que vivo em ti”. É o único modo
para vencer o enxame de invejas, ciúmes, medos de perder a face, rancores, ressentimentos,
situações de antipatia que enchem o coração do homem velho; para ser
"habitados" pelo Evangelho e espalhar o odor de Evangelho.
A Bíblia nos dá uma imagem que contém mais verdade do que
tratados inteiros de pastoral do anúncio: aquela do livro comido que lemos em
Ezequiel:
"Olhei e vi avançando para mim uma mão, que segurava um
manuscrito enrolado, que foi desdobrado diante de mim: estava coberto com
escrita de um e de outro lado: eram cânticos de luto, de queixumes e de
gemidos. Filho do homem, falou-me, come o rolo que aqui está, e, em seguida,
vai falar à casa de Israel. Abri a boca, e ele me fez engolir.
Filho do homem, falou-me, nutre o teu corpo, enche o teu
estômago com o rolo que te dou. Então o comi, e era doce na boca, como o mel.
(Ez 2, 9 - 3, 3; cf. também Ap 10, 2).
Há uma enorme diferença entre a palavra de Deus simplesmente
estudada e proclamada e a palavra de Deus antes “comida” e assimilada. No
primeiro caso fala-se de um pregador que “fala como um livro impresso”; mas não
se chega assim ao coração das pessoas, porque ao coração chega só aquilo que
parte do coração. “Cor ad cor loquitur, era o lema do beato cardeal Newman.
Retomando a imagem de Ezequiel, o autor do Apocalipse
acrescenta uma pequena, mas significativa variação. Diz que o livro engolido
era tão doce quanto o mel nos lábios, mas amargo como o fel nas entranhas (cf.
Ap 10, 10). Sim porque antes de ferir os ouvintes a palavra deve ferir o
anunciador, mostrar-lhe o seu pecado e leva-lo à conversão.
Não é o trabalho de um dia. Porém, há uma coisa que é
possível fazer em um dia, hoje mesmo: concordar com esta perspectiva, tomar a
decisão irrevogável, na medida da nossa capacidade, de não viver mais para nós
mesmos, mas para o Senhor (cf. Rm 14, 7-9). Tudo isso não pode ser só fruto do
esforço ascético do homem; isso é também obra da graça, fruto do Espírito
Santo. “Porque não vivemos mais para nós mesmos, mas para ele (Cristo) que
morreu e ressuscitou por nós, mandou, o Pai, o Espírito Santo, primeiro dom aos
crentes”. Assim a liturgia nos faz rezar na Oração eucarística IV.
É fácil saber como se consegue o Espírito Santo em vista da
evangelização. Basta ver como Jesus o conseguiu e como a Igreja o conseguiu no
mesmo dia de Pentecostes. Lucas descreve
assim o evento do batismo de Jesus: “Enquanto Jesus, tendo sido batizado também
ele, estava em oração, o céu se abriu e desceu sobre ele o Espírito Santo” (Lc
3,21-22). Foi a oração de Jesus que penetrou os céus e fez descer o Espírito
Santo e o mesmo aconteceu com os apóstolos. O Espírito Santo, em Pentecostes,
desceu sobre eles enquanto “perseveravam unanimemente na oração” (At 1, 14).
O esforço por um renovado compromisso missionário está
exposto a dois perigos principais. Um deles é a inércia, a preguiça, o não
fazer nada e deixar que os outros façam tudo. O outro é o cair em um ativismo
humano febril e vazio, com o resultado de perder aos poucos o contato com a
fonte da palavra e da sua eficácia. Também isso seria um cair no fracasso. Mais
aumenta o volume da atividade, mas deve aumentar o volume da oração.
Argumenta-se: isso é absurdo; o tempo é o que é! De acordo, mas quem
multiplicou os pães, não poderá, talvez, multiplicar também o tempo? Afinal de
contas, é o que Deus faz o tempo todo e que todos os dias fazemos a
experiência. Depois de ter orado, fazem-se as mesmas coisas em menos da metade
do tempo.
Argumenta-se ainda:
Mas como estar tranquilos para orar, como não correr, quando a casa pega fogo?
É verdade também isso. Mas imaginem esta cena: uma equipe de bombeiros recebeu
um alarme e corre com as sirenes ligadas para o lugar do incêndio; mas,
chegando ao local, se dá conta de que no reservatório não tem uma só gota de
água. Assim somos nós, quando corremos para pregar sem orar. Não é que falte a
palavra; pelo contrário, menos se reza mais se fala, mas não palavras vazias,
que não tocam ninguém.
4. Evangelização e compaixão
Juntamente com a oração outro meio para obter o Espírito
Santo é a retidão de intenção. A intenção ao pregar Cristo pode ser poluída por
várias causas. São Paulo elenca algumas na Carta aos Filipenses: por
conveniência, por inveja, por espírito de disputa e de rivalidade (Fl 1,
15-17). A causa que engloba todas as outras, no entanto, é uma só: a falta de
amor. São Paulo diz: "Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos
anjos, se não tiver amor, sou como bronze que soa ou como o címbalo que
retine" (l Cor 13,1).
A experiência me fez descobrir uma coisa: que se pode
anunciar Jesus Cristo por motivos que não têm nada a ver com o amor. Pode-se
anunciar por proselitismo, para encontrar, no aumento do número dos seguidores,
uma legitimidade da própria pequena igreja, especialmente se própria ou de
recente fundação. Pode-se anunciar, interpretando literalmente uma frase do Evangelho,
para levar o Evangelho aos confins da terra (cf. Mc 13, 10), de modo a
preencher o número dos eleitos, e apressar a volta do Senhor.
Algumas dessas razões não são em si ruins. Mas por si só não
são suficientes. Falta aquele genuíno amor e compaixão pelos homens que é a
alma do Evangelho. O Evangelho do amor só pode ser anunciado por amor. Se não
nos esforçamos para amar as pessoas que temos em frente, as palavras se
transformam facilmente em pedras que ferem e das quais é necessário defender-se
como de uma tempestade de granizo.
Sempre tenho perante os olhos a lição que a Bíblia,
implicitamente, nos dá com a história de Jonas. Jonas é forçado por Deus para
ir a Nínive pregar. Mas os ninivitas eram inimigos de Israel, e Jonas não
gostava dos ninivitas. Ele está visivelmente contente e satisfeito quando pode
gritar: "Ainda quarenta dias, e Nínive será destruída! ”. A perspectiva
não parece desagradá-lo nenhum pouco. Só que os ninivitas se arrependem e Deus
lhes poupa do castigo. Neste momento Jonas entra em crise. “Tiveste compaixão –
disse Deus quase desculpando-se - de um
arbusto... E então, não hei de ter compaixão da grande cidade de Nínive, onde
há mais de cento e vinte mil seres humanos, que não sabem discernir entre a sua
mão direita e a sua mão esquerda” (Jn 3, 10 ss). Deus deve fazer mais esforço
para convertê-lo, o pregador, do que para converter todos os habitantes de
Nínive!
Amor, então, pelos
homens. Mas também e acima de tudo amor por Jesus. É o amor de Cristo que nos
deve motivar. “Me amas? – Disse Jesus a Pedro – Apascenta as minhas ovelhas”
(cf. Jo 21, 15 ss). É preciso amar a Jesus, porque só quem está apaixonado por
Jesus pode proclamá-Lo ao mundo com profunda convicção. Só se fala com paixão
daquilo que se está apaixonado.
Proclamando o Evangelho, tanto com a vida quanto com as
palavras, nós não damos a Jesus só a glória, damos-lhe também alegria. Se é
verdade que “a alegria do Evangelho preenche o coração e a vida daqueles que se
encontram com Jesus[8]”, é verdade também que quem difunde o Evangelho enche de
alegria o coração de Jesus. A sensação de alegria e bem-estar que uma pessoa
experimenta ao sentir de repente voltar o fluxo da vida em um dos seus membros,
até então inerte ou paralisado, é um pequeno sinal da alegria que Cristo
experimenta quando sente o seu Espírito voltar a vivificar algum membro morto
do seu corpo.
Há, na Bíblia, uma palavra que eu nunca tinha notado antes:
"Como o frio da neve no tempo da colheita é o mensageiro fiel para com os
que o enviam; ele refrigera a alma do seu Senhor" (Pv 25, 13). A imagem do
calor e do frio faz pensar em Jesus na cruz gritando: "Tenho sede!".
É ele o grande “ceifeiro” sedento de almas, que somos chamados a refrescar com
o nosso humilde e devoto serviço ao Evangelho. Que o Espírito Santo, “principal
agente da evangelização”, nos conceda dar a Jesus esta alegria, com as palavras
ou com as obras, segundo o carisma e a tarefa que cada um de nós tenha na
Igreja.
Pe. Raniero Cantalamessa, ofmcap
[1] B. Paulo VI, Evangelii nuntiandi, nr. 75.
[2] O slogan é de Marshall
McLuhan, Understanding Media. The Extensions of Man, Mc Graw Hill, New
York 1964.
[3] DV, 2.
[4] Gregorio Magno, Omelie sul Vangelo, XVII.
[5] A. von Harnack, Die Mission und Ausbreitung des
Christentums in den ersten drei Jahrhunderten, Hinrichs, Leipzig 1902; ed. it.
Missione e propagazione del cristianesimo nei primi tre secoli, Cosenza 1986, rist. 2009, pp. 321s.
[6] EN, 41.
[7] Celano, Vita Seconda, CXXIII, 164 (FF, 749)
[8] Papa Francisco, Evangelii gaudium, 1.
(from Vatican Radio)
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