“Assim
vive em um presente que não tem um amanhã. Deus fala no silêncio e por isso o
solitário cala. A tarefa primordial é deixar-se formar, trabalhar, e estruturar
pelo silêncio, que dá a capacidade de bem viver e bem morrer...”- (Monge
desconhecido).
No silêncio reza
melhor. Enche-se de amor e vive o equilíbrio das emoções. Na glória do silêncio a vida encontra a verdadeira felicidade. A
paz, a serenidade, a alegria, o equilíbrio emocional, a incomensurável energia
do realizável, a comunhão da irmandade,
o respeito pela dignidade da pessoa humana, força e poder para suportar as
tormentas, coragem diante das incompatibilidades, caridade e justiça para o bem
comum. O silêncio tem como fundamento a maravilhosa graça de Cristo, o amor
eterno de Deus e a profunda comunhão do Espírito Santo.
Toda espiritualidade do
silêncio, a experiência do deserto, a teologia ascética e mística têm nesse
tripé a sua ortodoxia. Daí a vida cristã caminha na fé, no amor e na esperança.
É nesse contexto que a alma busca Deus com toda fome e sede. O desejo ardente
pelas coisas espirituais e a abissalidade contemplativa se guia pela docilidade
do silêncio. O silêncio é arte pedagógica da alma para Deus. O monge e o
eremita têm muito a nos ensinar. Precisamos demais aprender com a riqueza do
patrimônio sapiencial do monasticismo e eremítico. É a falta dessa colossal
sabedoria que a nossa sociedade vive numa catástrofe. Cada dia que passa o
conhecimento desse patrimônio fica mais distante das mentes e dos corações.
No entanto, resta tão
somente viver essa sabedoria divina no testemunho de vida, nos escritos e no
silêncio. A Santíssima Trindade tem chamado monges e eremitas num mundo tomado
de guerras, conflitos, terrorismos, vícios, luxúrias e agressão à natureza.
Esses ascetas, místicos e contemplativos são verdadeiras luzes nesse mundo de
tantas trevas e de profundo abismo. Esses homens e mulheres são os embriagados
de Deus, ou seja, mergulham no silêncio e na radical busca de intimidade com a
Trindade Santíssima. Só há uma razão de viver, unicamente para Deus. Por muitos
que não vivem para Deus e sua vontade, eles
vivem muito para Deus e sua vontade, realizando a caridade da intercessão para o bem de todos. Pelo exemplo de vida: sem
ostentação, sem consumismo, sem espetacularização e sem escravidão pelas coisas
materiais, eles causam impacto e desperta consciência em prol de algo melhor, maior
e eterno. A sua contribuição para sociedade é de sustentabilidade em todos os
níveis, principalmente espirituais e emocionais.
A glória do silêncio é
a glorificação, o louvor e a nossa adoração a Santíssima Trindade que
cantamos muito mais com a alma do que
com a boca.
“A minha vida aqui não
é a de um missionário, mas a de um eremita” escreveu o eremita do deserto do
Saara Charles de Foucauld a Henry de Castries, 28 outubro de 1905 (1). A 2 de
Julho de 1907, ele escreveu a Dom Guérin, destacando as palavras “Eu sou um monge,
não um missionário, feito para o silêncio, para não falar” (2). Esta recusa em
ser chamado missionário levou-o a querer desenvolver um apostolado da presença
“silenciosa”, “incógnito”. Em correspondência, o Padre Charles acredita que
esta presença é essencial, a fim de “gritar com a vida o Evangelho de Cristo”.
Pe.
Inácio José do Vale
Fraternidade
Sacerdotal Jesus Cáritas
Religioso
da Fraternidade da Visitação de Charles de Foucauld
Notas:
(1)
Foucauld, Letters to Henry de Castries , Paris, Grasset, 1938, p. 177.
(2) Citado em J.-F. Six. Itinerário
espiritual de Charles de Foucauld , Paris, Seuil, 1958, p. 280.
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