segunda-feira, 1 de julho de 2019

Brandmüller, o sínodo amazônico e o destino da Igreja.


Por Aldo Maria Valli,  29 de junho de 2019  

Queridos amigos do Duc in altum, voltemos a focalizar o próximo sínodo da Amazônia. Após ter publicado há alguns dias o discurso do professor Roberto de Mattei, tenho hoje o prazer de lhe oferecer uma carta que me foi enviada pelo professor José Antonio Ureta.

 Trata-se da acusação que o cardeal Walter Brandmüller fez ao documento preparatório da assembleia, cujo texto, segundo o cardeal alemão, “contradiz o ensinamento vinculante da Igreja em pontos decisivos e, portanto, deve ser qualificado como herético”. Não só isso. Uma vez que o documento questiona o próprio fato da revelação divina, na opinião de Brandmüller “também se deve falar, além disso, de apostasia”.



 O Instrumentum laboris, conclui o cardeal, “constitui um ataque aos fundamentos da fé, de uma maneira que não foi considerada possível até agora. E, portanto, deve ser rejeitado com a máxima firmeza”.

Comparado a todas as outras críticas ao sínodo e ao Instrumentum laboris, Ureta argumenta, o ataque do cardeal Brandmüller pode ser comparado a um golpe desferido pela Grande Berta, o supercanhão alemão usado na Primeira Guerra Mundial. Mas como responderão, se responderem, os paladinos do ecoindigenismo, que gozam de tantos créditos em Santa Marta e nos seus arredores?

Do professor Ureta, estudioso e conferencista chileno, lembremos o livro A “mudança de paradigma” do Papa Francisco. Continuidade ou ruptura na missão da Igreja? (Instituto Plinio Corrêa de Oliveira), análise inconformista dos primeiros cinco anos do pontificado de Bergoglio. (A.M.V.)

A Grande Berta do cardeal Brandmüller


Caro Dr. Valli, como o seu blog está se ocupando amplamente do sínodo sobre a Amazônia, gostaria de lhe transmitir algumas observações pessoais sobre a recente tomada de posição do cardeal Walter Brandmüller relativa ao Instrumentum laboris. Espero que elas lhe interessem e aos seus leitores.
Em um ato digno de El Cid Campeador, o cardeal Walter Brandmüller desceu à arena lançando um desafio aos organizadores do sínodo sobre a Amazônia e, indiretamente, ao Papa Francisco: acusou o Instrumentum laboris nada menos que de heresia e de apostasia.
Como nos espetáculos do passado, um grande estrépito se elevou nas galerias, e os rostos agora se voltam com olhares interrogativos para o palco, onde estão localizadas as autoridades que presidem a celebração: chamarão elas alguns heróis do alinhamento místico-eco-indígena para calçar a luva e defender a ortodoxia de suas intenções e do documento de trabalho anatematizado? Darão uma gargalhada, convidando-os a continuar a festa como se nada tivesse acontecido? Enviarão a guarda pretoriana para prender o audacioso que perturbou o programa?

Ninguém sabe. Mas uma coisa é certa: o debate subiu a outro patamar.
Em relação ao primeiro documento preparatório e às declarações feitas à imprensa por este ou aquele prelado ou representante da rede Panamazônica (uma verdadeira Wehrmacht de agitação social e racial que opera na região), apareciam alguns artigos de maior ou menor importância para alertar a opinião pública sobre a ofensiva em curso. Até mesmo um site especializado no monitoramento do trabalho preparatório do sínodo (panamazonsynodwatch.org) acolheu aqueles artigos que pareciam mais interessantes em vários campos: inculturação, ambientalismo, teologia indiana, tribalismo indígena, e assim por diante. Mas tudo isso foi uma contraofensiva de infantaria com a ajuda de alguns morteiros.

Os bombardeios bem calibrados da Grande Berta do cardeal alemão, pelo contrário, abriram não uma, mas diversas e grandes brechas no muro da próxima Assembleia especial do sínodo dos bispos. 

Ei-las:

– Os participantes do Sínodo são convidados a tratar principalmente de questões temporais que têm uma relação apenas marginal com a Revelação e a missão da Igreja: desmatamento, impacto climático, extração mineral e biodiversidade. Isso não é senão uma forma inaceitável de “mundanismo” e “clericalismo”.
– Os participantes do Sínodo são convidados a louvar as religiões fetichistas e rituais de cura e a apresentar os índios que os praticam como modelo de relação com o cosmos e com Deus Pai-Mãe.
Os participantes do sínodo são convidados a considerar a floresta amazônica como uma manifestação divina e a cantar o hino de adoração à natureza que entusiasmou os jovens nacional-socialistas, deixando-os embriagados com a perspectiva de renunciar à sua individualidade para se fundir no tudo (“pan”…teísmo).
Os participantes do sínodo são convidados a alterar a estrutura hierárquica da Igreja e a canonizar a abolição do celibato e a introdução do sacerdócio feminino, começando pelas diaconisas.

Em uma palavra, os participantes do sínodo são convidados a transformar o Corpo Místico de Cristo em uma vulgar ONG laica e ecocomunista.

Como na parábola do Evangelho de Lucas, mas em sentido inverso, o cardeal Brandmüller, fiel administrador, se apresenta respeitosamente diante de seu rico patrão e o acusa: “Administrastes mal o depósito que vos foi confiado. Redde rationem villicationis tuæ” (cf. Lucas 16.2).

O cardeal não apresenta um dubium. Ele faz duas declarações de potência atômica: “O Instrumentum laboris contradiz o ensinamento vinculante da Igreja em pontos decisivos e, portanto, deve ser qualificado como herético. Dado que o próprio fato da revelação divina é aqui posto em discussão ou mal entendido, deve-se também falar, além disso, da apostasia”.

O Vaticano do Papa Francisco (ou algumas de suas forças auxiliares) possui algum guarda-chuva atômico para salvar o próximo sínodo?

Se nos próximos dias nenhum paladino se apresentar para calçar a luva do desafio, a Assembleia especial sobre a região pan-amazônica deverá iniciar-se com um atestado de óbito: a data da morte será no dia 27 de junho e levará a assinatura do cardeal Walter Brandmüller.


Tradução: Hélio Dias Viana
FONTE:    FratresInUnum

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